terça-feira, 26 de abril de 2011

Um Alfabeto Estranho



Nesse mundo virtual tão novo, moderno, carregado de gírias e linguagens de grupos específicos, a gente já não sabe mais o que é comunicação. Pelo menos, não sabe mais se comunicar como antigamente, quando se escrevia uma carta em bom português. Aquela língua nossa, pátria, o vernáculo (que observa rigorosamente a pureza e correção da linguagem. / Idioma próprio de um país – segundo o Michaelis). Enfim, um sistema de códigos e signos que todo mundo podia entender.
Claro, sempre que se fala de grupos, seja de amigos, escola, do fim de semana, das brincadeiras, das bandas de música, de artistas, enfim, há aquele modo todo próprio de se utilizar a linguagem, com seus jargões, seus clichês, suas peculiaridades. Como por exemplo o ‘jabá’ que para o meio artístico significa um ganho extra para a exibição de algum trabalho;  o ‘desejar bosta’ (ou seu equivalente: ‘merda’) para a trupe de teatro que alega ser assim o modo de se pretender que numa apresentação saia tudo correto (eles acham que se usar termos como “sorte” ou “sucesso” aí é que vai dar bosta mesmo!).
Outro dia, estava eu tentando me comunicar com um amigo via chat, na internet, e não vou mentir, precisei de um tradutor especializado para compreender aonde aquele papo estava querendo chegar. Foi mais ou menos assim: (é fácil saber quando sou eu que escrevo, está em nossa língua pátria mesmo!)

- Olá, tudo bem com você?
E ae brow! Blz! Num tamu junto + tamo nu sangue! :-)
- Como é que é?
OMG! É nóis que voa bruxão! ;))))
- Desculpe, não estou entendendo... como assim?
LOL! Shaushuahuahsuahsuahsuahsua!   =P
- Vixe... assim não vai dar... você quer falar o português direito!?
Kkkkkkkkkkkkkkkkkk tu é muito sacal, véi! Que karai da PORRA é essa?????? Naum tô ligado! Vc tb naum cola.... num dá liga....  |O|

E assim prosseguia. Não preciso falar que depois tivemos que conversar pessoalmente, porque escrevendo não dava pé. Eu só queria perguntar a ele se havia ido à escola no dia anterior, porque tive que ir ao médico e faltara à aula. Precisava saber de alguma lição nova, um trabalho de casa, qualquer coisa assim. Ou não.
Meu amigo fala a minha língua quando conversamos diretamente. Eu não sabia que pela internet suas palavras (eram palavras?), aqueles “sinais” poderiam significar alguma coisa. Para mim não diziam nada. Outro dia eu ouvi alguém comentando sobre ser “analfabeto da informática”. Deve ser isso aí. Por que ou eu não sei mais falar e escrever ou aquele meu interlocutor virtual não era desse planeta ou de nenhum povo conhecido ou idioma catalogado. Se ele usasse uma língua estrangeira eu poderia até traduzir com o Google Translate... Mas, aquilo era sinistro demais.
Sou tradicional, ainda escrevo “você” com as quatro letras e “também” grafado desse jeito aí mesmo, e não um simples “tb” ou “vc”. “Demais” para mim é assim mesmo, e não um “D+”, isso que aí fica é nota de quem não foi bem na prova e quase alcançou a média. E aqueles quatro pontinhos no final? De onde saíram? Reticências usam apenas três deles. E será ainda que eles usam aquele monte de sinais de interrogação para expressar que a dúvida seria muito grande??? (Olha eu aí usando também, para tentar “entrar no contexto”). Gargalhar pela internet agora é “KKKKKKK” e quando querem “tirar onda” usam o “shuashaushaushashau”. Pensando bem, esse chat está ficando muito chato
Não adianta procurar em dicionários... Não tem! Mas, o Google está lá para isso. É só pôr as letras na caixa de texto e alguma explicação vem. Detesto quando tentam explicar usando o mesmo alfabeto e idioma. Aí já é uma “puta falta de sacanagem”. Pois é, outro dia eu estava lendo uns blogs e me vieram com essa: “puta falta de sacanagem”. Meus pais não acreditaram quando vieram me chamar no quarto para jantar e me encontraram completamente imóvel, os olhos esbugalhados, não piscavam. Por um instante pensaram que algo muito impressionante me chamara a atenção no monitor. Não era. Não possuía mais os movimentos, paranóia total. Fui parar no hospital na mesma hora. A noite inteira para me recuperar daquele susto. E tome soro na veia. Faltei mais um dia na escola, claro! Mas, dessa vez, nem pensar em me conectar ao MSN para falar com aquele meu amigo. Ainda me dói o braço das agulhadas da noite anterior.