quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Fiat Lux


                              A Criação da Luz


As trevas tomavam conta de toda aquela galáxia. Somente lá existia a escuridão, que era sustentada pelo deus Cítaro. Cítaro ia pescar todos os dias, em certo horário.
Um dia, um dos cidadãos dessa galáxia, que estava com ódio de Cítaro por não trazer fertilidade ao solo, encontrou-o em um rio onde costumava pescar. Cítaro, sem perceber que o homem estava ali, levou uma forte pancada na cabeça, com um pedaço de pau. Naquele momento, o mundo desequilibrou-se: a temperatura estava aumentando em lugares que nunca chegaram a níveis tão altos e os rios enchendo com o excesso de chuvas. Cítaro foi para um hospital e ficou lá durante muito tempo, enquanto a galáxia estava puro caos.
Até que um dia, ele mandou uma carta a seu irmão, Íllion, que era o deus governante da galáxia da Luz. A carta dizia que Cítaro estava muito doente e que precisava de alguém para substituí-lo em sua galáxia. Íllion aceitou a proposta e começou a governar a nova galáxia já no dia seguinte.
Íllion começou bem no novo cargo, pois o povo gostava dos raios flamejantes de sol que ele lançava sobre a galáxia. Todos aproveitavam a luz para a agricultura principalmente, já que sabiam que os raios de Íllion não iriam durar para sempre.
Tempos depois, Cítaro recuperou-se, não por completo, mas o suficiente para voltar a comandar a sua galáxia. Mas Íllion, que foi uma solução para seu antigo problema, passou a ser o seu verdadeiro dilema. O povo gostava mais de Íllion, que lhes proporcionava fertilidade ao solo e luz, do que Cítaro, que apenas lhes dava o frio e a escuridão da noite.
Então, Cítaro e Íllion começaram uma grande guerra que durou milhares de anos, pois os dois queriam governar a mesma galáxia. Até que um dia, Cítaro e Íllion, já completamente exaustos, não tendo mais de onde tirar forças para continuar na batalha, totalmente enfraquecidos, estabeleceram que o melhor a fazer seria dar ao povo o que eles gostavam, sem abrir mão do poder antigo do próprio Cítaro. Definiram que um governaria a seu modo uma metade do dia e outro comandaria a outra metade, surgindo assim a divisão do tempo diário em noite e claridade.
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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Um Baú de Monstruosidades






Lucas e Fernanda tinham acabado de entrar na casa dos avós, como já conheciam o local, se instalaram facilmente. Dona Rosa serviu a eles uma pequena e fervente tigela de mingau. Depois de terminarem a refeição, conversaram um pouco com Dona Rosa, que estava animada por rever seus netos. Depois da conversa, Dona Rosa foi para cama, onde o avô Alberto já dormia. Os jovens sentaram-se no sofá e assistiram um pouco de televisão. Mais tarde, foram dormir.
No dia seguinte, os visitantes, sonolentos, desceram as escadas em direção a cozinha, onde estava dona Rosa, esperando por eles com o café já na mesa. Comeram tudo rapidamente, estavam com muita fome. Entediados, resolveram brincar de esconde-esconde. Mantiveram-se ocupados pelo dia todo, até a chegada do crepúsculo vespertino. Lucas quis se esconder no sótão na próxima rodada. Então, quando Fernanda começou a contar, Lucas subiu as escadas apressadamente.
Chegando lá em cima, escondeu-se atrás de uma poltrona. Pensou em se esconder dentro de um baú, que tinha do outro lado da sala, para maior dificuldade de Fernanda. Então, rastejou-se pelo chão para chegar ao baú sem fazer barulho. Chegou até ele. Abriu-o e, para sua surpresa, não havia objetos lá, mas sim monstros!
Aterrorizado com a imagem, fechou o baú e saiu correndo sem olhar para trás. Quando viu Fernanda procurando-o pela sala, disse:
- Fernanda! Precisamos fazer alguma coisa com um baú que há no sótão! Está cheinho de monstros!
- Ah! Sabia que o coelhinho da páscoa veio me visitar no tempo em que esteve longe de mim? – ironizou Fernanda, rindo após a frase.
Então, Lucas a desafiou para abrir o baú e comprovar se sua palavra estava mesmo certa. A jovem aceitou facilmente o desafio. Foi ao sótão e abriu o baú, sem medo. Aterrorizada como Lucas, fechou aquele depósito de monstruosidades e saiu correndo até a sala, onde Lucas a esperava apavorada e tremendo até não mais poder.
- Desculpe-me! Você tinha razão, mas o que vamos fazer agora?!
- Eu não sei, mas vou pensar em algo.
Fernanda e Lucas vão se deitar, mas dormir eles não conseguem. No outro dia, Lucas se levanta com uma ideia para acabar com aquele problema: decide ir ao sótão com a irmã, pegar o baú e jogar no pântano. Mas, eles encontram um problema: o baú estava preso ao chão, era um elemento da casa, e, se eles o retirassem, não sabiam que consequências receberiam. Mais um dia se passou e Fernanda decidiu pegar armas, como facas e outros utensílios da cozinha, para enfrentar os monstros do baú. Lucas concordou com a ideia, então, logo se equiparam e foram à “batalha”. Lucas entrou primeiro e aproximou-se do baú, junto de Fernanda. Abriram o baú e atiraram facas, utensílios de madeira e muito mais objetos. Mas, depois de acabarem objetos para atacar, descobriram que aquilo era apenas um projetor barato! Descobriram que um botão estava emperrado, então fazia muitos vídeos e sons! Foram à cozinha e sentaram-se à mesa, pasmos com a descoberta. Alguns minutos depois, receberam a notícia de que seus pais haviam chegado. Arrumaram suas malas e entraram no carro:
- Gostaram do final de semana? – perguntou-lhes o pai.
- Sim. Claro que sim.
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Curiosidades Mágicas





Depois de conseguir a bolsa secreta do seu ilusionista favorito, Tim retorna a casa e se tranca em seu quarto, eufórico, pois sua imaginação viajava longe com os segredos que supunha revelar.

Depois de muito vasculhar, encontrou papéis, varinhas, caixas, compartimentos secretos, até mesmo pós e substâncias que iam muito além de mágicas de apresentação. Ele estava diante de um arsenal completo para a realização de magias e feitiços. Um prazer sobrenatural correu por todo o corpo de Tim, colocando nele um sorriso irreconhecível. Vasculhando um pouco mais ele encontrou uma das mágicas que pensava ser capaz apenas em histórias de super-heróis: a capacidade de correr na velocidade da luz.

Os dias foram se passando e Tim se divertia muito com todas aquelas mágicas, sempre as realizando furtivamente para não despertar suspeitas. O que mais o divertia não era a possibilidade de ser reconhecido como mágico, mas ver o efeito das mágicas propriamente.

No dia anterior, havia enfeitiçado um barco que agora voava. Incrível! E naquela manhã mesmo, fez a lua, que ainda se exibia no céu azul, aparecer completamente marrom! Ele tinha descoberto inclusive o poder de modificar elementos da natureza. Tim estava radiante! Mas, como o ser humano nunca fica satisfeito, essas descobertas todas já o estavam entediando.

Ao final do dia, logo depois da escola, Tim se fecha outra vez em seu quarto, pega a bolsa mágica e a vira de cabeça para baixo. Cai tudo em cima da sua cama, não fica nada lá dentro. Entretanto, ele notou que na base inferior da bolsa havia algo compacto, duro, e não era somente um protetor para o fundo. Foi tateando por dentro dela até que encontrou um pequeno fio que ao ser puxado, abria um compartimento secreto que ele ainda não conhecia. Exultou! Abriu-o devagar, de repente, começou a ouvir vozes, primeiro uns gemidos, depois gritos de pavor, horrorosos, quando a aba se abriu completamente, ele viu fogo saindo lá de dentro. Mas não queimava. Era como uma visão.

Tim colocou sua mão dentro do compartimento recém descoberto e retirou um feixe de cartas de baralho em formato triangular. Ele olhou para o pacote e depositou-o sobre uma mesa que havia ao lado da sua cama. Tim novamente voltou-se para ver se achava algo mais lá no compartimento. Não encontrou nada. Quando ele levanta os olhos em direção do baralho, ele fica petrificado. Seus olhos diziam, mas ele não acreditava: a mesa estava flutuando pelo quarto todo.

O jovem aprendiz começou a procurar freneticamente pelos seus livros de magia para tentar entender o fenômeno. Não achou nada que mencionasse o estranho acontecido. Correu para o computador e navegando pela internet encontrou uma página muito soturna sobre bruxaria e ali mesmo, com um pouco de pesquisa, achou tudo que precisava saber para dominar aquela magia. Hesitou por alguns minutos. Pegou novamente o baralho e notou uma combinação de palavras quando ajeitava as cartas como um quebra-cabeça. Pôs-se em posição solene, ergueu os braços, decorou a frase contida no baralho e começou a recitá-la com os olhos fechados. Passado um tempo curto, ele percebe um clarão entrando pela fresta da janela. Aproxima-se e não acredita no que vê: uma luz completamente branca e translúcida toma conta de tudo, como se engolisse tudo que há no mundo. Tudo foi se apagando, desaparecendo, até ficar apenas um cenário desolador completamente neutro. Tudo claríssimo demais, os olhos doíam. Não se avistava a linha do horizonte, o céu e a terra se misturaram, era tudo uma coisa só.

Desesperado, saiu de casa e constatou que apenas a sua casa existia. Seus pais haviam desaparecido, amigos, vizinhos, a escola, as ruas, lojas, parque, praça, árvores, cachorros... Tudo sumiu. Não havia ninguém ou coisa alguma na cidade. Como se nunca tivessem existido. Nem sinal de ruínas. E o ar denso, pesado. Tim pensou: deve ser assim o fim do mundo. Completamente aborrecido, desolado, ele voltou a casa, sentou-se no primeiro degrau que dava para a varanda e ficou ali, meditando e arrependido. A sensação de abandono e vazio ardia dentro dele. Foi assim que passou o resto da sua existência. “Maldita hora em que fui roubar aquela bolsa de feitiços!”, foi a sua última frase.
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