segunda-feira, 2 de maio de 2011

Ah! Superstições...





Ah! Esse grande mundo... Cheio de superstições para enganar os tolos. Como aquela velha história do gato preto, dizem que na “idade média os gatos eram bruxas transformadas em animais; por isso a tradição diz que cruzar com gato preto é azar na certa”. E tem a lenda da escada, “nunca devemos passar por debaixo de uma escada porque atrai má sorte”.
Outro dia, um amigo meu, o Jerry, contou-me histórias sobre uma certa caverna muito estranha, que ficava lá na praia, depois daquele braço de mar, onde começa a floresta. Mas, será que dava para acreditar em alguém que não era muito conhecido por dizer verdades, tanto que já o tinham apelidado como “Balelão”?  E não tinha um só dia que ele não me contava a mesma “lorota dos fantasmas” da tal caverna. Chamei-o para uma conversa:
- Olha, eu até vou contigo nessa tal caverna que você fala; mas, o que eu ganho se não houver fantasma nenhum lá dentro?
A princípio ele me olhou com ar de desentendido. “Como assim? Ganhar?”. Claro, porque eu não iria me meter lá no escuro da noite sem levar um ‘cobres’ no bolso.
- Tudo bem. – Respondeu depois de um tempo. - Se você ficar lá dentro a noite inteira e não aparecer nenhum espírito fantasiado com lençol eu te pago... Vamos ver... Umas vinte “pratas”. Topas?
- Fechado.
Pensei comigo: “Vai ser moleza! Vinte ‘contos’ no bolso”.
No dia seguinte, já bem cedo, nos encontramos no quiosque da praia. Seu José, o dono do pequeno comércio, nem havia chegado ainda. O “da lorota” veio logo dizendo que a gente precisaria de uma barraca ‘das boas’, porque poderíamos ser atacados por algum bicho feroz na madrugada adentro. Lá fomos nós até uma loja de artigos esportivos para comprar uma. Mas, o menino não era nada bobo, disse que não tinha todo o dinheiro e se a barraca não ficaria por minha conta. Lá se foram preciosos cento e setenta reais.
Naquela tarde mesmo, nós arrumamos tudo e partimos às cinco horas. Minha casa ficava do lado oposto, tínhamos que atravessar toda a praia, passar pelas pedras gigantes do fim da orla, atravessar o pequeno braço de mar que entrava pelo continente; depois, seguir por um caminho entre árvores, já no começo da floresta, um lugar que pouca gente ia. Só mesmo aquele pessoal do turismo ecológico é que costumava passar por ali. Ali tinha uma cerca de arame farpado, que eu nunca soube por que existia, se não fechava nada e nem protegia coisa nenhuma. Descemos por uma trilha escorregadia e cheia de pedras molhadas até que no fim dela avistamos a entrada da caverna.
Confesso que quando a gente falava sobre a caverna, lá na praia ainda, minhas pernas não tremiam tanto. Mas, eu não queria demonstrar medo. Falei com o Balelão. Chamei-o. Perguntei se não iríamos entrar logo. E ele nada. Não dizia palavra nenhuma. Olhei para o rosto dele e estava mais branco do que o uniforme de médico do meu tio. Procurei acalmá-lo. Afinal, não poderia ser tão ruim assim... ou seria? Ai, meu Deus!
Coletamos um material para fazer fogueira dentro da caverna. Ela era muito grande, daria para morar uma família inteira ali e sobrava espaço. Ajeitamos tudo num lugar lá dentro, que julgamos adequado. Fizemos uma fogueira pequena. Com a luz dela, conseguimos montar a barraca. Comemos o lanche que havíamos trazido pronto e fomos direto para dentro da barraca. Jogamos os colchonetes pelo chão e os sacos de dormir por cima deles. Ficamos sentados ali por horas, conversando e tentando espantar o medo.
Lá pelas dez da noite, ouvi um ruído muito estranho, parecia um gemido. Na verdade, eram dois. Dois gemidos! Perguntei para o meu amigo se ele havia escutado também. Ora, ora, um dos gemidos vinha dele. E o outro? O que seria? Fantasmas? A lenda era real? Meu amigo completamente branco de novo. Não falava, não piscava, não mexia um músculo. Tentei movê-lo e então empurrei-o para o lado e o barulho sumiu. Então, ajoelhei sobre onde ele estava sentado para ver se estava tudo bem e percebi que debaixo do colchonete havia alguns pedaços de madeira. Quando eu os pressionava, o barulho surgia. Era só isso! Meu amigo voltou do seu “mundo maluco” e tratamos logo de ir dormir.
As horas passando e nada do sono chegar. Por volta de duas da madrugada outro barulho. Agora era o fantasma! Vinha do lado de fora da barraca. E quem vai lá fora ver? Eu que não! Vimos uma sombra tomar conta de toda a lona da barraca pelo lado de fora. Vinha cobrindo tudo. Agora estamos “fritos”, pensei. Ufa! Passou. Era só uma coruja que ficou entre a barraca e a luz da lua que entrava pela abertura da caverna. Ao se afastar, suas asas pareceram gigantes. Pelo jeito era só medo à toa. Não tinha fantasma, nem nada por ali. Dormimos.
O dia amanheceu e fantasma nenhum apareceu. Acordamos com as costas doendo por uma noite muito mal dormida. Pegamos nossas coisas, desmontamos a barraca e voltamos para casa. O Balelão tinha um sorriso de culpa e envergonhado por desvendar seu conto da “carochinha” e pelo pavor que vivemos naquela noite. De cabeça baixa, entregou-me o dinheiro da aposta. Ganhei vinte “pratas” e gastei cento e setenta. Grande lucro! Enfiei as duas notas de dez no bolso. Partimos. Ah! Superstições...
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