segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Guerra Elementar



Foi aí que o Vento, combinando com os demais súditos do Sol, arquitetou um plano diabólico para destruir para sempre o Astro-Rei. Chamou o Raio e a Chuva e começaram uma guerra sem fim. Era o Sol aparecer que lá vinham eles com seu forte armamento, despejando temporais por toda parte até atingir o próprio Sol.
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Por milênios, era o Sol quem dominava tudo, era o senhor absoluto. O povo e toda a vida na Terra estavam contentes com a sua luz e o seu calor, que ajudava nas plantações de onde tiravam os seus sustentos. É verdade que a Chuva também era necessária; mas, só em pequenas doses, para matar a sede das plantas e encher os rios com água boa.
Certa vez, o Vento percebeu que o povo da Terra fazia muitas oferendas para o Sol, em agradecimento pela fonte de vida que ele lhes proporcionava. Ele saiu voando para contar aos outros amigos o que via com freqüência e também para comentar que nunca tinha visto a mesma homenagem para eles, nunca ninguém havia oferecido algo pela Chuva, Vento ou Raio.
Com inveja nos olhos, eles correram até o Sol e exigiram que também tivessem o mesmo respeito. O Sol, sempre muito justo, sugeriu fazer uma consulta ao povo. Mas, os elementos tinham imposto uma condição: eles queriam aparecer mais, ou seja, chover mais, ventar mais e mais raios de trovão queriam cantar pelo céu da Terra.
O povo não gostou da ideia de sofrer mais tempestades, achava que o que existia já estava bom. Então recusaram a proposta. O Sol informou aos elementos a resposta dada. Porém, eles não gostaram nada. Então, começaram a se rebelar e se uniram para fazer tempestades todos os dias, da primeira hora da manhã até a última da tarde. Só paravam com a noite. Dessa forma, com a ajuda das nuvens de Chuvas, encobriram e esgotaram todas as energias do Sol até que, completamente esgotado, ele tornou-se presa fácil e foi jogado numa masmorra, onde era vigiado vinte e quatro horas por dia, as grades eram feitas das filhas do Raio e do teto gotejavam as primas da Chuva sem parar. Seu fogo já não ardia como antes e restava dele apenas uma bola avermelhada do núcleo.
O povo e todas as espécies viventes na Terra suplicavam para que os elementos deixassem o Sol voltar a brilhar no céu, já estavam ficando sem comida, as plantas morrendo afogadas por tanta água que vinha de cima, as casas eram destruidas pelos Raios, só se ouvia o barulho do trovão por toda parte do mundo.
Com tanta Chuva, as nuvens começaram a ficar sem água. Eles tinham esquecido de que a base de toda a tempestade é a Chuva e ela é que vem acompanhada de Raio e Vento. Se a Chuva acaba, não existem mais os Raios nem os Ventos. Então, pelo mundo, o que se via é que as tempestades foram diminuindo, diminuindo, até ficar apenas uns chuviscos e garoas aqui e ali. Os Raios não tinham mais força para gritar pelo mundo e os Ventos não passavam de pequenas brisas frescas pela manhã.
Diante dessa situação, os elementos perceberam que ficavam cada vez mais fracos e que o fim deles estava próximo. A Chuva não aguentando mais, sem água nem para as lágrimas, lamentou-se profundamente chamando a todos os demais e relatando o caso. Ou a água que havia lançado na Terra tornasse a formar novas nuvens ou iriam todos desaparecer para sempre.
Eles pensaram em fazer algo para atrair a água dos rios, lagos e oceanos de volta para o céu, mas, sem sucesso. Porque seria impossível ao Raio ou ao Vento levar uma quantidade muito grande para as nuvens quase secas. Foi aí que perceberam a grande verdade da vida: o Sol não era apenas o Astro-Rei à toa, era responsável por fazer toda a natureza funcionar corretamente, colocando cada coisa em seu lugar, recebendo água e enviando em forma de Chuva quando necessário.
Depois de muito pensar colocaram em votação e ficou claro, por três votos a zero, de que o Sol precisava retornar urgentemente para garantir a sobrevivência de todos, dos elementos e do povo. Porque sem o povo e de toda a vida na Terra para usufruir dos efeitos dos tempos da natureza e do clima, não haveria necessidade deles e daí é que não serviriam para nada mesmo.
Num ato solene, com muito respeito e consideração, foram os três para as masmorras e ordenaram que o Sol fosse libertado. Os Raios das grades que tomavam conta do lugar desapareceram e a saída ficou livre. O Sol, vendo que todos ali se desculpavam pelo grande erro cometido, perdoou-os todos e voltou a ser o grande Astro-Rei levando vida e alegria a todos os cantos da Terra.
Tudo voltou a ter cor e perfume, as plantas voltaram a crescer e a dar frutos, os homens e os bichos puderam de novo receber da natureza os bons alimentos que sempre os sustentaram. E o povo da Terra percebeu também a importância que há em cada elemento da natureza e como precisam de todos, de forma equilibrada, e passou a homenagear cada elemento num dia diferente pelo ano, criando o dia da Chuva, do Vento e do Raio.
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