quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Um Conto de Fogueira


Mário tinha acabado sua história, e agora era a minha vez. Vou contar a verdade, a história que Mário contou foi realmente assustadora. Alguns até tiveram “pequenos acidentes nos países baixos”! O cheiro não estava agradável mesmo!
Mas, que história eu iria contar? Já tinham contado a do “homem do saco”, a clássica sobre o “bicho papão” e muitas outras. Então, com dificuldade, lembrei de uma história que um amigo me contara quando eu era apenas um garotinho. Aquela narrativa me aterrorizara por todo aquele mês de setembro. Trata-se de praticamente um mito que dizia que uma garota de cabelos loiros havia morrido em um banheiro de colégio e que agora assombrava os banheiros de todas as escolas. “É esta a história que vou contar”, pensei. Logo, comecei a narrar a história, tranquilamente, pois não sentia mais medo dela.
Certa vez, fui dizendo, numa antiga escola por onde passei, fizemos um campeonato de futebol. Como apenas os alunos da própria escola iriam participar, foram formadas poucas equipes. Num único dia, todo o cronograma do campeonato seria cumprido. Começamos pela manhã e a final ocorrera por volta das vinte horas. Quando o último jogo terminou, todos se cumprimentaram, brincaram, zoaram uns com os outros. Depois despediram-se todos e retornaram às suas casas. Eu havia sido encarregado de guardar o equipamento usado no almoxarifado. Recolhi tudo e fui para lá com o material. Armazenei os apetrechos todos nas prateleiras e armários e saí. No final do corredor ficavam os banheiros masculinos. Entrei para dar a minha última contribuição. Quando estava diante do espelho, ao lavar as mãos, baixei a cabeça para molhar os cabelos. Ao me levantar, olhei para a imagem do espelho e congelei! O que eu via na imagem? Logo atrás de mim, uma menina de uns quinze anos, com sangue escorrendo em volta dos lábios, algodão no nariz. Seu cabelo era todo amarelo e a pele branca como se nunca nela houvesse corrido a vermelhidão do sangue. Dei um grito pavoroso! Baixei a cabeça imediatamente e vi que toda a pia estava banhada de um vermelho que só podia ser o sangue dela. Não tinha coragem de me mover. Não conseguia olhar para o espelho e nem para trás. Não tive dúvidas: era a loira do mito que aterrorizava os alunos de todas as escolas. E agora? Só sei que imediatamente molhei as calças e não era pela água da pia. Tentei me mexer. Nada. Meus pés pesavam duzentos quilos. Uma voz muito leve, mas com o cheiro da morte, soprou no meu pescoço um hálito podre. “Você vai ficar para sempre aqui comigo!”, sentenciou. Não vi mais nada. Horas depois, meus pais e uma funcionária da escola faziam de tudo para me reanimar, até que conseguiram. Eu estava desmaiado e em volta uma poça de sangue. Ninguém entendeu o que havia acontecido naquela noite. Nem eu. Pensei, deve ter sido um pesadelo, devo ter escorregado, batido a cabeça e desmaiado. O sangue, não sei. Talvez arranhado o braço, a perna, mas agora já tinha sido estancado. Fui embora para casa todo atordoado. Meus pais me levaram para a farmácia, o atendente receitou uns remédios para dores e pronto. Chegando em casa, ao ir tomar banho, tirei minha camiseta e o calção. Notei que havia algo no bolso traseiro. Meti a mão e retirei um chumaço de cabelos loiros. O que era aquilo? Não sei ainda! Alguém quer ver? – e enfiei a mão no bolso.
Dito isso, todos que ouviam atentamente, deram um salto para trás. Uns tropeçaram nos outros e parecia queda de dominós pelo chão do acampamento. Eu também caí do banco em que estava, mas foi de tanto rir.
Meus colegas ficaram visivelmente perturbados, alguns tremiam de medo a cada palavra proferida.
Disse a eles que a história era apenas um mito e que não era real. Nada daquilo havia acontecido. Aconselhei-os a entrar na barraca e tentar dormir. Mas, depois desse susto, quem conseguia dormir?! O máximo que conseguiam fazer era dar um cochilo rápido e acordar agitados pelos pesadelos.

2 comentários:

  1. Se eu soubesse contar histórias de terror assim... Sempre que eu tento contar uma, acabo contando uma piada!

    Ótimo texto

    Bjocas

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  2. olha a lembrança boa: ela ainda deixa uma mecha como souvenir... que delicadeza. rs

    muito bom. já está dando uma quantidade boa para o livro "Os contos que conta o Hector"

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